A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) está entre as instituições que acompanharam o retorno para o Maranhão dos fósseis de um dinossauro encontrado na cidade de Davinópolis. No primeiro momento, o material estava sob a responsabilidade da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).
A peça, que pertence a uma espécie herbívora ainda não descrita pela ciência, foi descoberta em abril de 2021, durante obras de terraplenagem para a construção de um terminal ferroviário. A escavação, limpeza, remontagem e os primeiros estudos foram realizados pelo paleontólogo e, na época, professor da UNIFESSPA, Elver Luiz Mayer. A pesquisa foi realizada no Pará pela proximidade geográfica dos achados e da instituição.
De acordo com a Lei de Proteção ao Patrimônio Fossilífero, um fóssil é patrimônio da União e pode ser mantido sob a guarda de qualquer instituição federal, estadual ou municipal dentro do território brasileiro.
Apesar de ter sido coordenado pelo pesquisador Elver Mayer, o professor da UFMA e paleontólogo Manuel Alfredo Medeiros, fez parte do estudo e foi um dos responsáveis pelo translado dos fósseis de São Félix do Xingu, no Pará, até São Luís, Maranhão. O material está alocado no Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão (CPHNAMA).
“A minha participação se justifica por eu ser o paleontólogo da UFMA que está mais atuante nessa parte de coleta e estudo de fósseis no Maranhão. Esse dinossauro faz parte de uma comunidade biológica que era ecologicamente integrada e que viveu aqui entre 113 e 97 milhões de anos atrás”, explica Manuel Alfredo.
O professor responsável pela pesquisa, Elver Mayer, enfatiza que trazer os fósseis para o Maranhão garante maior acesso público e científico, além de fortalecer a pesquisa por meio da parceria com a UFMA. “A importância de levar os fósseis de volta ao Maranhão reside no fato de que lá eles estarão acessíveis ao público em geral e a outros pesquisadores, ao contrário do que seria se permanecessem no interior do Pará, onde eu trabalhava anteriormente. Além disso, estarão mais próximos do local de origem, Davinópolis, e em uma instituição consagrada pelo trabalho com Paleontologia. A parceria com a UFMA, por meio do professor Manuel Alfredo, foi fundamental para a pesquisa porque ele e sua equipe dispõem de grande experiência profissional no que se refere aos fósseis do Maranhão”, frisa.
Para viabilizar o translado dos fósseis, as instituições contaram com o apoio da empresa de papel e celulose Suzano, que financiou a remoção para São Luís.
A gerente de Relações Corporativas da Suzano, Rakel Murad, destaca que a parceria público-privada reforça o compromisso de todos com a sustentabilidade, a ciência e a preservação do patrimônio maranhense. "Temos na Suzano um forte compromisso com o desenvolvimento sustentável, a valorização do conhecimento científico e a preservação do patrimônio natural e cultural. Apoiar iniciativas como essa, que promovem a ciência, a educação e o patrimônio do Maranhão, está totalmente alinhado ao nosso propósito de gerar impacto positivo na sociedade. A logística desse transporte representa uma contribuição concreta para o avanço do conhecimento e a preservação da história natural da nossa região", salienta.
Nova espécie de dinossauro
A nova espécie de dinossauro identificada em Davinópolis, Maranhão, possui cerca de 100 milhões de anos e é o maior já descoberto no estado, com cerca de 18 metros de comprimento. Os fósseis revelam a existência de uma grande comunidade biológica na região durante o Período Cretáceo.
Entre os principais achados dessa fauna, em várias localidades do Maranhão (Davinópolis, Coroatá, Cajapió, Santa Rita, Duque Bacelar, Alcântara e São Luís), estão restos de dinossauros herbívoros e carnívoros, crocodilos, répteis voadores, como os pterossauros, além de inúmeros peixes, tartarugas e vestígios de formas vegetais antigas, incluindo coníferas, samambaias arborescentes e equisetos.
A pesquisa realizada pelos professores já resultou na elaboração de um artigo científico, com previsão de publicação para o segundo semestre de 2025. De acordo com o professor Manuel Alfredo, além de contribuir para a visibilidade da UFMA no cenário acadêmico, os dados coletados também reforçam o ensino da Paleontologia, sendo incorporados diretamente nas disciplinas da área.
“Isso conta ponto para a UFMA, pois a coloca em evidência. Na parte de ensino, essas informações são incorporadas não só aqui, entram também em outras instituições do mundo todo que estudam a Paleontologia. Quando você publica uma pesquisa sobre um fóssil com essa importância, alcança níveis internacionais, pois são achados de interesse internacional”, pontua o professor Manuel Alfredo.
Elver Mayer salienta que a descoberta é relevante porque revela fósseis de dinossauros gigantes de uma fase intermediária do Cretáceo, pouco conhecida na Paleontologia brasileira. “Para a Paleontologia brasileira é importante porque amplia nosso conhecimento sobre a diversidade biológica pré-histórica de um intervalo do tempo geológico diferente daqueles conhecidos para outros dinossauros gigantes já descritos com base em fósseis brasileiros. Os fósseis geralmente são do início e fim do período Cretáceo, esses fósseis são do "meio" do Cretáceo”, explica o pesquisador e professor Elver Mayer.
Os fósseis já estão no Maranhão e estarão acessíveis ao público no salão de exposição do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia do Maranhão (CPHNAMA) por alguns dias, antes de serem definitivamente incorporados à sala de coleção.
O Museu fica localizado na Rua do Giz, 59, no Centro Histórico de São Luís, Maranhão.